sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Linha

O vento fazia a curva na esquina da rua em que eu morava. A esquina era esquisita, tinha um poste que a luz nunca acendia quando anoitecia e isso fazia daquele lugar um lugar esquisito. A partir das 18h aquela esquina não existia. Existia somente o nada. De dia passava gente a todo o momento com destinos diferentes. Passava gente correndo, gente lenta, gente apressada, gente que parava e ficava ali a espera de outras gentes, ou parada por leseira mesmo, sem ter o que fazer. A esquina era bem estreita e as pessoas se chocavam a todo o instante quando vinham em sentidos opostos. A esquina era o começo de uma rua imensa que dava para outra rua por onde passavam muitos carros. Nunca fui até o final, observava apenas do inicio. Meu limite naquela rua era somente até onde morava.

Tinha dias em que aquela rua era assustadora. Ela ficava olhando pra mim e rindo, meio que me esnobando. Dentro do seu olhar o cenário todo tremia e o riso tinha um som agudo irritante. Eu ignorava aquilo, passava direto e entrava as presas. No outro dia quando vinha passando, um velho parou na esquina e fez sinal para o fim da rua:

 - Ali mora o futuro, garoto. Essa rua é apenas uma pequena porcentagem da vida. Você já foi até o outro lado?"

- Ainda não, respondi.

- Vá, siga e vá. Hahahaha...

Aquele velho assustador, cujo nome nunca irei saber, me deixou mais curioso em relação ao final daquela rua. Fiquei observando ele sumir na esquina e parei no canto, bem rente a parede. Era um tempo agoniante e aquele espaço entre a esquina e a rua era pequeno demais para ficar ali. Comecei a andar e por curiosidade passei direto. Fui até o final da rua. No final da rua exista uma estrada imensa, mais ou menos do tamanho do mundo por onde o vento percorria e as sobras das nuvens caminhavam. Era uma estrada abandonada. À noite, a luz da lua lhe contava historias. Pensei que nela passavam vários carros com destinos diferentes.

domingo, 12 de agosto de 2012

Pequena Dedicatória

Uma vez quando eu fui criança, perguntei pra minha mãe porque meu pai não estava em casa, ela apenas me olhou. Só vim descobrir o sentido disso muitos anos depois quando estava no mesmo caminho. Meu pai tem um jeito que muitos não gostam; até eu não gosto às vezes. Mas têm qualidades que me fazem amar muito ele, esse é o espirito. Todo filho admira o pai, é como se fosse o herói da sua vida. Dedica-se em seguir os mesmos passos para ser igual. Dizem que pareço com meu pai. Eu até que concordo porque aprendi e continuo aprendendo muitas coisas. Mas acreditem, sou muito diferente. Hoje como é dia dele, fiquei pensando nas besteiras que já fiz e que podia magoa ele, então voltei a ser criança para querer ser que nem aquele herói. Por isso inventei de fazer uma pequena biografia para descobrir o que sei do meu pai.

Trabalhador e persistente: assim é Pedro Paulo. Nasceu numa família pobre e aprendeu desde cedo que as conquistas veem do suor das lutas, e que para realizar seus ideais teria que enfrentar os problemas da vida sozinho. Sempre teve poucos amigos, mas era receptivo com todos que o rodeavam; gostava de prezar por sua família. Filho de pais separados assumiu a responsabilidade de cuidar de sua mãe e de seus irmãos. Com essa obrigação, sua personalidade ser tornou forte e rude, o que lhe feria por dentro. Não sabia nada de coisa alguma, aprendeu com as pancadas que a vida lhe dava.

Para Pedro, descobrir o caminho para subir era difícil. Nunca ficava parado esperando as conquistas, pensava rápido e agia com dureza. Isso lhe ensinava coisas sobre a existência e o sentido das nossas ações na escolha da vida. Preferia não ter medo de nada e se enganava em ter a certeza de que isso não existia. Medo era desculpa para ficar parado, e fazia disso um mote para construir e realizar seus sonhos: ter uma casa, um carro, um emprego. Esses sonhos lhe davam perspectiva e força, mas sabia que para tê-los a dor e o cansaço fariam parte.

Na juventude trabalhava para aprender; levava desaforos e nunca contava com ajuda. Tinha que se virar com o que tinha, era preciso saber perde para se chegar onde queria. Passou fome, decepção, e problemas com a justiça. Por mais que fosse tentador, nunca pensou em desistir. Tinha o instinto do ser humano lutador: o de querer sempre mais. Mesmo não sendo formado, aprendeu na faculdade da vida sobre sonhos, derrotas, conquistas e humildade; coisas que lhe qualificavam como pessoa. Sua maior alegria foi a de sempre trabalhar e de ver seus filhos seguindo os seus passos com a mesma disposição em busca do conhecimento. Conhecimento era saber sobre a vida. Em seu momento pessoal se diverte e se estressa assistindo futebol. Gosta de música popular e comer bem.

Pedro é observador e carrega em seu olhar coisas que a maioria prefere não procurar saber. Ainda tem que passar por mais coisas para pode viver e aprender. Nunca pensa em perder o que tem, por isso tem a ideia de construir sempre mais. Que o trabalho sempre fará parte de sua vida e que mesmo quando não tiver mais forças continuara lutando. Pedro não se importa com que os outros dizem, faz seu trabalho e acredita que se perde terá que recomeçar tudo novamente. Sempre confiou em si mesmo e traz desde cedo essa lição.

Valeu pai. Mesmo não estando presente obrigado por me lembrar disso.

Bruno, pai e eu



sábado, 11 de agosto de 2012

Das tentativas

Tentei contar quantas vezes olhei nos teus olhos para sorrir e me perdi. De quantas vezes te abracei para me fazer me sentir bem, de quantas horas precisei para segurar isso no tempo. Parei pra ficar pensando de quantas vezes pensei na poesia dos nossos dias. Nos teus lábios, teus cabelos, tua pele, no prazer da vontade louca de te amar sem ter nada a perder... Das vezes que tentei me controlar. Sábia que a cada passo a distância se aproximava, mas não recuei porque acreditava que poderia descobrir mais.

Tentei mostrar minha falta de humor, meu jeito ridículo para lhe dar com as coisas. Tentei não errar. Tentei tantas coisas para mostrar uma dedicação. Tentei mudar. Às vezes tentei não saber o que eu já sabia só para saber de novo. Tentei fingir. Tentei tantas coisas e deixei de tentar tantas outras. Tentei ser outros pra segurar um pouco, tentei fazer com que tentasse também. Tentei mostrar. Tentei até a última tentativa de se tentar. Aí parei. Parei pra ficar lembrando de nós e de quantas vezes eu tentei.
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