Nesse
campo teatral temos que partir sempre do que te toca, da poesia movente da
ferramenta do conhecimento. É através do que se busca, do que te apresentam e
da condução que chegamos ao objetivo. O discente em teatro precisa aprender com
a própria vida e além dela o que a produção de tudo quer dizer; é preciso se
apossar do objeto e multiplicar outros sentindo; receber os efeitos positivos e
negativos para demarcar território do seu sentido; evoluir no objetivo da criação
e formação de pensamento. Todos os códigos refletiram no acontecimento da
pesquisa para a reprodução de símbolos, imagens e de um novo campo que cresce
de acordo com as coordenadas do processo. Na minha formação buscava sempre
conhecer a linha educacional que caminhava dentro de mim, do que percebia. Do
que causava em mim ao produzir outros conteúdos em relação ao entendimento.
Pude
colocar em prática essa linha do ensinamento adquirido no curso durante a disciplina
Prática do Ensino do Teatro I, onde estagiei na Escola de Aplicação da UFPA –
NPI. Foi onde comecei a perceber a educação existente em mim. Tinha a visão de
um professor na sala de aula, conduzia a turma e vivenciava a minha forma de
educar, buscando descobrir o ensino do teatro dentro da escola. Percebia a
didática do ensino no fazer-aprender durante as aulas:
Didática é o fazer aprender, o ensinar na prática para que
assim se obtenha o entendimento do assunto. Não podemos apenas ser meros
ouvintes do que está sendo discutido. No modo de ensinar aos alunos, devemos
fazer com que eles joguem, participem e se coloquem no processo de construção
da aula para que “fazendo”, o entendimento se torna mais fácil. Assim o
interesse fica sendo primordial, possibilitando ao aluno outras formas de
conhecer e dando-lhe possibilidades de procurar outras fontes de querer saber
mais (BERNARD, 2013).
Passava a
informação através de jogos, dinâmica relacionada à outra área de conhecimento;
conversava sobre teatro, arte e cultura com os alunos e me alimentava de novos saberes
que escapava de cada um, sustentava o ritmo da aula com a criação de conteúdo
feita pela turma. É preciso manter o controle, perceber o ritmo da cena e
desenvolver um bom espetáculo em que todos participem.
O primeiro momento de percepção em entrar numa sala de aula,
faz você entender o raciocínio de tudo o que acontecerá naquele espaço. A turma
801 e 803, foi a qual pude aprender a lhe dar como professor em sala de aula.
Impondo-me como estudante de teatro, estagiário e professor, [...] A ultima
aula com as duas turmas criei uma atividade teatral, já que a professora cedeu
para a realização de um exercício dos estagiários. Trabalhei recriação de
objetos e sentir um pouco de dificuldade em manter a atenção com o grupo de
alunos que estavam participando da atividade. Era um contra ponto de não se
expor, ter vergonha de ficar olhando o amigo, faziam rápido só para dizer que
participaram. Mas o maior segredo é saber como funciona a atenção dos alunos,
de onde se pode puxar para que todo o resto participe (BERNARD, 2014).
Imagem
5: Exercício de ressignificação
da imagem do artista Cândido Portinari (Retirantes, 1944), NPI, 2014.
Estar em sala de aula ensinando foi
gratificante além das expectativas. Participei junto com a turma, conhecia os
alunos e tinha um retorno para aplicar na construção de um plano de aula
melhor, mostrava o teatro na educação fundamental e em alguns casos cheguei a
abrir as aulas com as propostas dos alunos.
Através
desse conjunto de ensinamentos é que nos movemos, que agimos, que mantemos
nosso corpo em dialogo com o espaço. Eu tinha bastante atenção em trabalhar em
cada etapa que fazia meu conhecimento crescer na universidade. Era minha vida
com “vida” acadêmica; tudo junto e misturado. Às vezes não conseguia avançar,
parava para refletir sobre a modificação da arte e como dá andamento as
pesquisas e elaboração de conteúdo. Parava no tempo. Voltava ao meu centro e avaliava
a composição cênica que se instaurava na minha memória. Regressava novamente a
sala de aula para perceber como tudo precisa de um espaço-tempo para haver o
entendimento do novo, das possibilidades de restaurar cada etapa para
prosseguir no reconhecimento da pesquisa. Tudo se regularizava em mim, minha
percepção dos fatos se organizava. Entendi que no teatro somos levados pelos
sentidos do movimento, da ação, de onde se parte, de cada ponto e pra onde o
objeto te leva. É a regra jogo de cada ensinamento que compõe o conjunto.
O corpo, a memória, a criação
depende de tempos de espera, tempos de vazio, tempos de decepção, até um
momento e tempo em que um trabalho interno, silencioso e aparentemente
inexistente encontra a resolução do problema em ato, em potências e em ação (COLLA,
2013, pg. 22).
Em outro
estágio pelo qual passei, aprendi com essa parte significante que cada lugar
tem um tempo e que a dificuldade pode trazer um novo aprendizado. Estagiei um
ano e meio na Assessoria Comunitária da Companhia de Saneamento do Pará
(COSANPA) onde atuei como colaborador, artista e ator-manipulador com teatro de
animação para escolas, instituições e comunidades:
Imagem
6: Equipe de estagiários de teatro da COSANPA, 2013
As dificuldades da arte naquele ambiente
traziam um esgotamento de praticar o meu aprendizado e percebi várias falhas
onde o teatro em alguns casos não se encaixava. Os materiais de trabalhos eram
velhos, o planejamento da secretária em agendar as escolas não era resolvido,
obtinha desvio da minha função de estagiário, entre outros problemas, que só me
dei conta quando me perguntei qual era a minha parte nisso tudo? Como contratam
um estagiário de teatro para preencher fichas de avaliação sobre tratamento de
água? Foi então que a arte de se fazer teatro tomou conta de meus pensamentos,
desenvolvi através de muita luta dar um novo sentido da arte naquele espaço,
afinal minha função era levar a mensagem da sustentabilidade para outros
lugares através da arte. Solicitei novos materiais de trabalho, escrevi
roteiros para criação de novas cenas, agendei apresentações em comunidades e
escolas e fui dando um novo sentido teatral naquele lugar que só parou quando a
administração me colocou numa função diferente da minha formação. Meu corpo não
tinha mais a vontade de produzir conteúdo. Tentei mostra uma forma de fazer
teatro num ambiente onde não queriam saber e tive que pedir demissão. Segui
outro caminho.
Aos poucos
o discente em teatro modifica o seu entendimento, caminha na linha doraciocínio. Traz pra perto as possibilidades que ampliam o objetivo de seus
trabalhos. Passa por fases que podem contribuir ou interferir no processo de
formação. As grandes mudanças acontecem no seu fazer; na criação de seusraciocínios e em trabalhos coletivos onde há mudança de pensamentos,
compartilhamentos de ideias e um único caminho por onde sai o amadurecimento do
que se está construindo. Como estamos cavando nesse adubo orgânico para
imaginação? Há o momento de parar, errar para entender, aprender com as
incertezas. Quando algo modifica a regra do jogo é preciso avaliar a situação
para o fluxo das possibilidades adentrarem no seu desempenho, não havendo
interferência e seguindo a lei natural da vida. Um dos objetivos é fazer a sua
parte e torcer para que todo o resto se encaminhe:
Sem o fracasso, o estímulo seria puro valor. Seria a embriagues; e por
essa enorme vitória subjetiva que é a embriaguez, tornar-se-ia o mais
incorrigível dos erros objetivos. Assim, a nosso ver, o homem que tivesse a
impressão de nunca se enganar estaria enganado sempre (BACHELARD, 1996, p 295).
O estimulo
vem como uma corrente que explode dentro de si, essa é a parte fundamental de
um pensamento cientifico. Tudo está vivo e a nossa relação de vida com vida
acadêmica não se diferencia. É preciso relacionar nosso olhar com o olhar do
outro, se conectar com a esperança do destino e estar sempre em mudança, é ela
que vai definir o seu potencial de diferença entre os iguais que vivem a
universidade. Durante esse processo de formação os meios te levam por
determinados caminhos que juntam as partes de um sistema de conhecimento que
estar sempre em desenvolvimento. É preciso lutar contra a redução da vida e as
dificuldades do curso, para além da sala de aula.
Em todo caso,
viver quatro anos de curso dependerá de como interpretaremos a nossa
performance em conhecer todos os meios de informações e cheios de vivência a
nossa rotina. De como os grupos, as experiências, os trabalhos acadêmicos e
profissionais se juntarão ao desempenho da função de descobrimento de sentidos.
Eu descobri que não me separava por completo do teatro, mesmo sabendo que tinha
outras vivências além da universidade. Tudo está em conexão. O curso
influenciou muito na minha forma de pensar, demonstrar, construir o
conhecimento, aplicar nas diversas ciências e planejar um horizonte para minha
vida. Os trabalhos continuavam na cidade e no Brasil a fora. Durante esse plano
todo busquei uma forma de organicidade dessa vivência. Um profissional em teatro
deve saber interpretar bem os papeis da própria vida. É a vida existente que
nos serve de material para criação.
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