Naquela tarde chuvosa tudo estava calmo, menos o céu. O
vento trazia um sono preguiçoso e como de costume, Alberto se embalava na rede
e ficava ali até o anoitecer. Seu corpo meio preguiçoso atrofiou-se. Criou esse
costume de descansar ao chegar à velhice e não o trocava por nada. Muitos não
sabem, mas quando atingimos a idade dos 80, nosso corpo pede por descanso. A paciência
pelas coisas, o entendimento em aceitar as novidades, a readaptação com a
contemporaneidade, a juventude precoce em se adaptar com o meio, etc. Alberto
tinha 76, e já estava treinando para quando completasse 80. Puxava um ronco
baixinho que pouco se ouvia por causa do barulho da chuva, parecia que aquelas
gotas caiam como pedrinhas na tela. Raimunda, sua
esposa, o olhava descansar assim como se vê os ponteiros de um relógio girar.
Era hora de preparar o café. Se levantou da cadeira com uma leveza que deixava a
velhice morrendo de inveja. Aceitava tudo que era novo, se sentia bem e ficava
feliz em descobrir um novo olhar para as coisas do mundo. Reconstruía seu modo
de vida com os passos da realidade atual. Tinha chegado aos 70 com uma energia
de 30. Gostava de estar sempre na atividade, cozinhava, bordava, corria pela
manhã, escrevia, cuidava de suas plantas e ria com as piadas do facebook. Sempre mantinha mente e corpo
trabalhando, assim continuava com sua autoestima. Seguiu até a cozinha em busca de expectativa
para lhe manter ativa e tentar reanimar Alberto. Deu um leve sorriso sarcástico e
continuou a admirar a vida.
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