Sexo, palavra e sentimento: são coisas que nunca se encontram ao mesmo tempo. Num momento você tem uma, no outro tem a outra. É preciso ter certo tipo de jogo para manter os três em sintonia, para que nosso corpo seja entregue totalmente. Foi o que aconteceu. As três coisas se encontraram e o meu corpo se rendeu. Emanuel sobre mim no sofá, sussurrando palavras que eu sentia passar por todo o meu corpo, o movimento de seus lábios tocando ao meu, minha respiração ofegante, sua barba roçando meu rosto, seus braços me apertando, o leve tocar de sua mão no meio seio que fizeram minhas pernas se esticarem, e bater na mesinha no meio da sala que balançou e derrubou a cerveja sobre os livros. Sentia-me entregue para as vontades do meu corpo que acabara de entrar num ritual de troca de desejos, onde eu não tinha controle sobre os movimentos. Emanuel fazia-me caricias pelo rosto e soprava palavras que se perdiam no ar. – Seu corpo é minha poesia – disse Emanuel. – Me faz ter desejos fortes de escrevê-las, de tocá-las. Quero sentir você como nos meus pensamentos, ouvir seus gritos de paixão para que eu covardemente lhe agrida de amor. Não conseguia me conter diante das palavras de Emanuel. Cedi meu corpo a ele, num sofá, ao som de Pink Floyd, no momento em que carecia de amor: a palavra forte que causa dor e vontade de senti-la cada vez mais. Era uma entrega de corpos desconhecido em que o sexo fazia o amor platônico torna-se uma mentira. Me desperto na cama de Emanuel totalmente nua, enrolada no lençol e um pouco sonolenta. Fico observando aquele quarto enquanto me despreguiço. Um lugar entre quatro paredes em que despejamos nossas impurezas não realizadas diante das pessoas. Sempre é assim: acordo em um lugar estranho, meu corpo pesa, a merda já estar feita, minha vontade realizada numa noite em que eu parecia está só, numa noite fria, na rua, no mundo. Emanuel aparece na porta, me da um bom dia e senta-se na cama passando seus dedos entre meus cabelos. Sorrio para ele e imagino o que havíamos feito durante a noite, foi tão rápido, nem deu tempo de conversarmos direito. Depois quando eu estivesse só, irei ficar me magoando pelos cantos de casa pensando na vadia que sou. – Tenho uma coisa pra te mostrar – disse Emanuel. O que seria? Emanuel parecia um pouco feliz. Levanto-me da cama, ainda nua e caminho com Emanuel pelo quarto até uma mesa onde estava o computador, com uns livros e uma pilha de papeis em volta. Havia mais livros jogados pelo chão. Ele pegou uma folha que estava dentro da gaveta da mesa e me entregou. “Escrevi isso pra você”, disse Emanuel, “eu sei que não nos conhecemos, mas já sonhei com você várias vezes”. Ele escrevera um poema para mim, enquanto eu caminhava em seus sonhos. Emanuel me abraçou por trás, estava só de cueca e eu nua. Li o poema enquanto ele me abraçava.
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DEVANEIO
I
Meu corpo o mesmo.
Sua respiração ofegante.
Minha alma sumida,
Sua alma a minha.
Nos teus braços, nos teus seios
Minha imaginação se torna real.
O real de um mundo irreal.
E nesse mundo real,
Sua alma some.
Acordo com uma respiração ofegante
E o meu corpo já não é mais o mesmo.
II
Retomo o sono, retorno ao sonho.
Seus braços me acolhem, e descanso.
Sinto seu corpo e seus lábios suáveis tocarem ao meu.
Observo seu rosto e o roço.
Minhas viagens agora são em seus beijos,
Em um lindo ponto num canto aconchegante.
Não quero mais acordar.
Abraços confortáveis, salivas doces.
Quero permanecer estável em seu corpo.
Quero me contaminar até criar esporo.
Não quero mais acordar.
Sonho, beijos, corpos, vontades, palavras.
Meu corpo soa.
Nossos corpos em um sonho soam.
Beijos e palavras escorrem,
E as letras se desfazem nas vontades do meu sonho.
III
De longe, te vejo, ilusão.
Meus pensamentos são você,
Meus pensamentos acordados não existem.
Passa todas as noites por ele, por todos os sonhos.
Minha vontade é te ter, meu medo é te perde.
Vens e some, sua alma não existe.
Você é minha imaginação, seus beijos minha lágrima.
Perco-te sempre. Abandone-me.
Partes para o infinito e me deixe.
A calma, o silêncio, o vazio,
As dores que irei sentir são os amores por você.
Não te tenho, não te guardo, não tenho sonhos.
Quero viver acordado, para não lhe encontrar nunca mais.
terça-feira, 13 de julho de 2010
Sobre o amor platônico - Capítulo IV
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