sábado, 10 de julho de 2010

Sobre o amor platônico - Capítulo III

Suzane:

Dentro do táxi a caminho do apartamento de Emanuel, fiquei observando-o. Olhava para sua mão que estava sobre a boca, a barba que lhe cobria o rosto, o jeito que ele olhava pela janela do carro e via os prédios desfilarem diante do seu olhar, as luzes lhe atravessando o corpo, o vento forte que batia em seu rosto e faziam seus olhos lagrimarem. Eu estava ao seu lado, num silêncio. Ficava pensando em minhas loucuras, nas atitudes que tomava sem pensar. Um dia eu ia acabar me dando mal de tanta merda que fazia. Como poderia ter aceitado o convite de um estranho; quer dizer... Quase um estranho. Havia visto Emanuel duas vezes: na primeira o vi sentado na livraria, me senti encantada pelo charme dele com os livros ao lado, na segunda vez, ao perceber ele, falei para minha amiga gritar meu nome e me chamar para sairmos de onde estávamos. Mas daquela vez eu não havia feito nada. Estava sentada no trapiche porque estava cheia de tudo e de todos, e queria ficar um tempo sozinha, quando ele apareceu de repente em minha frente.

O táxi parou em frete ao prédio de Emanuel. Descemos do carro e fomos até ao elevador. Subimos em silêncio disfarçando nossos olhares para os cantos. Já dentro do apartamento, Emanuel colocou as chaves sobre a mesa e disse para me sentir a vontade. Caminhei pela sala e me sentei no sofá. “Que beber alguma coisa?”, gritou Emanuel de dentro da cozinha. “Depende. O que tem para beber?”, eu disse. “Tenho refrigerante, cerveja e meia garrafa de uísque”, responde Emanuel. “Quero cerveja”, complementei. Emanuel voltou com duas garrafas de cerveja e me deu uma. Fingir que estava lendo um livro que havia pegado na mesinha no meio da sala, ele acendeu um cigarro e foi até o som. Fiquei olhando para seus ombros e o modo como ele bebia a cerveja. Ele colocou um pouco de Pink Floyd para ficar tocando, voltou e sentou-se ao meu lado.

– E então, – disse Emanuel. – Quem é você?

Parei de dar atenção para o livro e olhei para Emanuel. Tentei segurar minha paixão reprimida que sentia por ele.

– Sou uma ilusão – eu disse. – A pior de todas as ilusões. – silêncio no ambiente.

– Não é verdade – respondeu Emanuel.

– Porque acha isso? – perguntei.

– Bom, – disse Emanuel. – você aqui na minha frente, diante dos meus olhos, é algo muito mais do que uma ilusão. Você é simplesmente: todos os meus sonhos, todas as minhas noites solitárias, as minhas dores, as minhas paixões que se perdem pelos ares.

Naquele instante percebi que eu não era a única que sofria desse mal. Ele me dissera todos seus sentimentos, dores e perdas. Ouvi cada palavra como se fosse uma linda canção, respirei fundo, lágrimas ficaram presas nos meus olhos e minha garganta ficou roca. Passei a desejá-lo ali mesmo. Soprei suavemente pela minha boca o que havia guardado em meus pensamentos:

– Não é assim! Essas palavras são minhas. Eu que tenho que dizer isso.

– Então diz – disse Emanuel.

Fiquei calada por uns sete segundos. Minha vida toda se passou em sete segundos. Tudo estava me sufocando: o momento, a verdade, os segundos. Tomei um gole da cerveja e apertei a garrafa em minhas mãos.

– Você. – eu disse. – É todas as letras que eu escrevia nos dias solitários, todas as lágrimas que caiam dos meus olhos antes de dormir, todas as rosas que nunca recebi, e todas as canções que me faziam sorrir.

Pronto! Falei. Avancei na direção do corpo de Emanuel e abracei-o. Ele me apertou em seus braços e me engolia em seus beijos.

Um comentário:

Lívia Corbellari disse...

tbm estou fazendo uma serie de capitulos, o seu esta mto legal

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