Há vinte anos, quando tinha nove anos, ficava em frente à televisão assistindo ao desenho do Snoopy. Amava o desenho, meu personagem favorito da turma era o Chalier Brown: um garoto azarento e melancólico que vivia um amor platônico. Desde aquela idade eu já sabia o que era ser frustrado por uma garota. Sempre me apaixonara por uma amiga da escola e ficava pensando nela antes de dormir. De lá pra cá, me entreguei à solidão. Tive alguns relacionamentos que sempre acabavam em amizades. Mas agora ali, parado diante de Suzane, queria acabar de vez com a dor que alimentava o meu coração, a minha mente e os meus dias.
Havia conhecido Suzane numa livraria. Eu estava sentado perto de uma montanha de livros, lendo. Procurava algum livro que me interessasse, quando Suzane se aproximou para me pedir uma informação. Ela imaginava que eu era funcionário da loja:
– Desculpe moço, queria saber onde posso pagar isso – disse Suzane segurando um livro na mão. – Poderia me ajudar?
Olhei para ela, para seus cabelos cacheados, para seus olhos castanhos claro, para o corpo todo e para o livro que estava segurando. Não conseguia ver o titulo. Só conseguir notar a fonte da letra e a cor do livro. Era um livro de capa verde com letras preta na frente que formava o nome do livro.
– Você vai me ajudar ou não? – disse Suzane.
– Bom, é logo atrás de você, onde está aquela moça de camisa vermelha – eu disse.
– Obrigada!
Suzane caminhou até o caixa enquanto eu ficava observando-a. Pagou o livro, recebeu uma sacola branca e saiu da livraria, saiu pela rua, saiu do meu olhar e se perdeu na multidão. Espontaneamente, fui ao caixa perguntar para a moça qual tinha sido o livro que à última cliente havia comprado: “um romance do escritor Rubem Fonseca”, respondeu à moça do caixa. “Era esse mesmo que eu estava procurando”, eu disse, “Vou levar um!” A moça foi até a estante pegar o livro e voltou ao caixa, passou na maquina do código de barra e colocou numa sacola. Paguei o livro, sair da livraria e caminhei até meu prédio que ficava próximo dali. Era uns dez minutos caminhado, andei tão rápido que cheguei em menos de cinco minutos. Entrei no quarto, e ali permaneci às próximas vinte horas lendo o livro acompanhado de uma latinha de Coca-Cola que degustava aos pouco. Fiquei pensando em Suzane por uns dias até ela sumir aos pouco de meus pensamentos.
Havia se passado duas semanas desde a última vez que pensei em Suzane. Fui junto com um amigo meu para um show de uma banda de rock me distrair um pouco. Havia pouca gente no local e ficamos escorados numa parede próxima ao bar que dava para prestigiar a banda de longe. Eu estava olhando os solinhos psicodélicos que o guitarrista fazia na guitarra quando vi um grupo de amigas dançando feitas loucas na frente do palco. Entre elas estava Suzane, balançando seus cabelos cacheados, abraçando as amigas e pirando ao som frenético da banda. Era a segunda vez que via Suzane, e foi nessa vez que descobri o nome dela. Eu tinha me aproximado do palco, ela estava bem perto com suas amigas, fiquei disfarçando o olhar até que uma das amigas gritou para Suzane: “Suzane, vamos sair daqui!” Ouvi a beleza de seu nome e fiquei paralisado, tenso, sem palavras ao descobrir o nome dela. Fiquei do mesmo jeito que me encontrara agora, naquela noite fria diante de Suzane.
Com o vento tocando-me o rosto, caminhei na direção de Suzane. Estava decidido a conhecê-la naquela noite, e vê o que aconteceria depois – seria um desastre.
– Olá – eu disse com o cigarro entre os lábios. – Posso sentar aqui?
– Não falo com estranhos – respondeu Suzane.
A situação se manteve tensa por uns quinze segundos até eu quebrar o silêncio. – Bom, à noite estar fria... Posso lhe oferecer um cigarro? Que dizer, se você fumar é claro... – Escuta aqui cara! – interrompeu Suzane. – Se você pensa que vai conseguir alguma coisa com essa conversinha, está muito enganado. Em vez de ficar nesse papo furado, porque não toma uma atitude e me convida logo para um lugar. Foi assim: curto e claro. Fiquei pasmo com que acabei de ouvir. Olhei nos olhos de Suzane, e sentir uma atração cada vez maior me subir o corpo. A sensação era forte. Dias de amores platônico resumido em um único momento. Não pensei duas vezes antes de fazer a pergunta: – Que ir para meu apartamento e beber alguma coisa?
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