Bernard Freire
Emanuel:
Exatamente às onze horas e quarenta e sete minutos de uma sexta-feira, entrei num bar que ficava no centro da cidade e pedi um uísque duplo com gelo para o garçom. Fiquei observando o ambiente do bar que me parecia confortável: mesas com cadeiras estilo década de trinta, nas paredes, quadros de cantores famosos de jazz e caricaturas dos cantores da MPB; as luzes num tom de amarelo escurecido e a música clássica que chiava numa caixa de som no canto do bar, me faziam-me se sentir bem. O garçom volta com um copo de uísque e põe sobre o balcão; peguei o copo e degustei um gole daquele uísque que me golpeou a cabeça. Estava com um jeito calmo e pensativo naquele bar encantador esquecido pelo mundo. Passei os primeiros trinta minutos sentado com os cotovelos sobre o balcão pensando em minha fudida vida solitária; na redação do jornal em que trabalhava, em meus romances escritos que não me rendiam nada, nas mulheres que nunca se interessavam por mim, e em Suzane: um amor platônico que criei.
Aos vinte e nove anos de idade, eu era mais um ser humano que caminhava pelas terras desse imenso mundo. Jornalista, escritor medíocre, autor de dois romances sem sucesso e acompanhado de uma solidão insistente, percebi que meus dias são os mesmo e que não havia mais nada de interessante na minha vida; a não ser aquele copo de uísque que se desintegrava na minha frente. Deixei um dinheiro sobre o balcão, me levantei e fui ao banheiro. Sair, e caminhei na direção da porta de saída. Ao atravessar a porta me esbarrei sem querer numa moça de cabelos ruivos que usava um vestido preto e calçava um tênis All Star branco, ela me olhou furiosa e me chamou de idiota antes de entrar no bar. Não liguei, pois já estava acostumado com a ignorância do sexo oposto, e seguir caminhado pelas ruas vazias daquela noite fria.
Sair caminhando em direção ao nada. Respirava o ar frio que penetra em meus pulmões e sentia-me leve. Como uma noite daquela poderia está tão calada. Parecia que eu era a única pessoa no mundo. Bem... só parecia. Nas calçadas das lojas por onde passava, havia mendigos dormindo tranquilamente. Imaginei-me dormindo ali, junto deles, naquele mármore gelado embrulhado por jornais, parecia tão confortável. A alguns quarteirões dali, passei por um posto de gasolina e entrei na loja de conveniência. Olhei para a câmera de segurança e o adesivo colado ao lado com um desenho idiota de uma carinha sorrindo e a frase: “sorria você estar sendo filmado”. Fui até a geladeira, peguei uma garrafa de cerveja e fui ao caixa. Encarei o atendente: um rapaz magro com o rosto cheio de espinhas que usava um boné com o nome do posto.
– Dois e noventa, senhor – disse o atendente.
Puxei a carteira do bolso e tirei uma nota de dez reais.
– Deseja mais alguma coisa?
– Uma carteira de cigarros – respondi.
Peguei o troco, a carteira de cigarros e a cerveja, e sair. Mas antes, dei mais uma olhada para a câmera de segurança.
Novamente andando pelas ruas vazias, ouvia o som do vento batendo nas folhas, olhava o céu estrelado, os casarões antigos, os passos que dava entre as linhas da calçada. Sentia um pouco de medo ao caminhar sozinho. De longe, vi um pequeno trapiche que ficava de frente para um imenso mar. Caminhei na direção do trapiche e cheguei perto de uma escadinha. Deixei a garrafa de cerveja vazia encostada no canto e andei sobre a tábua macia daquela ponte. Chegando ao final do trapiche, me escorei num tronco de árvore que parecia ser uma perna-manca, e senti o vento tocar-me o rosto. Puxei um cigarro do bolso e acendi. Admirando o momento, olhava a beleza em minha volta até meu olhar para numa moça sentada no canto. Ela estava com os braços apertados em volta dela, se aquecendo do frio daquela noite. Fiquei paralisado, olhando-a, pois não era apenas uma moça sozinha numa noite fria; era Suzane, meu amor platônico.
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